segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Brasil, tô fora!

Engraçado como apenas 4 anos longe do Brasil fizeram com que a idéia do vídeo a seguir se tornasse inconcebível na minha cabeça. Logo eu, que costumava assistir tiroteio da sacada do meu apartamento em um bairro nobre de Campinas.



Engraçado também é conversar com algumas pessoas que, mesmo nunca tendo saído do Brasil, insistem que é o melhor lugar do mundo para se viver. Já passei por essa circunstância um zilhão de vezes e ela só foi ficar clara para mim quando entendi que a "Alegoria da Caverna," de Platão, é muito mais do que um simples conto.

Agora, o bom de escrever um blog que ninguém lê é que aqui eu posso dizer o que eu penso sem o risco de ser severamente criticado ou morto pela grande parcela ignorante da sociedade.

Enquanto isso, os felizes brasileiros que fiquem a mercê dos seus traficantes, ladrões, e policiais. Afinal, é infinitamente melhor conviver com esses indivíduos do que com os frios europeus (alusão ao comentário exagerado e parcialmente infundado que freqüentemente recebo dos defensores da idéia de que o Brasil é o melhor país do mundo).

11 comentários:

Unknown disse...

Rodrigo, sempre tem algum maluco que lê o blog ;-). Já conversamos sobre o assunto desse post, lá na casa do Nicolas, se não me engano. E sabes que eu discordo da tua visão de que o Brasil é um inferno e a Euuropa é o paraíso. E eu já saí da caverna do Platão há uns dois anos. Eu acho que a Europa tem basicamente duas vantagens:

1. Segurança
2. Situação econômica (ganha-se mais)

Em todos os outros aspectos eu sou mais o Brasil ;-).

Abraço.

Rodrigo Schmidt disse...

Oi, Leonardo!

Eu não disse que a Europa é um paraíso. Apenas falei que o Brasil está longe de ser.

Eu acho que além da segurança e economia, o Brasil perde pra Europa em vários outros quesitos: saúde, educação, tecnologia, política, igualdade social, e todo resto que derivada dessas coisas.

Todavia, mesmo consciente de todos esses problemas eu já vivi ótimos momentos no Brasil e seria capaz de voltar sem o menor remorso. Pra mim, dá para se ser feliz em qualquer lugar e em qualquer situação. Eu só não aceito bem o comentário de quem diz que o Brasil é melhor que o resto sem nunca ter ido lá pra ver, e sem provas concretas, se é que você me entende :-).

Em que você acha que o Brasil é melhor?

Abs,
Rodrigo

Unknown disse...

Saúde e educação estão diretamente associados ao problema econômico. Se os brasileiros pudessem pagar o que se paga pela saúde aí na Suiça, com certeza não teríamos problemas na saúde. Pra quem pode pagar existem recursos no Brasil tão bons quanto aqui na Europa. A diferença é que aqui toda a população tem acesso aos recursos e no Brasil uma minoria. Simplesmente por reflexo da situação econômica. Mas para melhorar a economia tem que investir em educação, e aí temos um ciclo vicioso.

Em tecnologia, não estamos tão mal assim, veja por exemplo a Petrobrás e a Embraer que não perdem em tecnologia para empresas de outros lugares.

Em recursos naturais e em fontes alternativas de energia, creio que o Brasil provavelmente é o melhor país do mundo.

Em política, o Brasil é uma democracia consolidada. No Brasil, por exemplo, políticos não podem ser donos de emissoras de rádio ou TV. Aqui na Itália o Berlusconi é dono dos 3 maiores canais abertos. Todos os dias metade do noticiário é dedicado a diser que o "o governo Prodi tem que ir pra casa". Eles usam literamente essas palavras. E se o governo Prodi "for pra casa", obviamente deixa lugar para o Berlusconi voltar ao poder. Isso me parece muito pouco democrático e não acontece no Brasil.

Sem falar em questões culturais. Eu acho que a música brasileira é muito mais rica e de melhor qualidade do que a de qualquer país Europeu. Ultimamente até o cinema brasileiro está apresentando filmes que não devem nada para os daqui.

Depois tem ainda questões pessoais como o churrasco com os amigos, que como no Brasil não tem igual. Mas entendo que não consideres isso uma "prova concreta".

Por fim, concordo plenamente contigo que dá pra ser feliz em qualquer lugar ;-).

Rodrigo Schmidt disse...

Acho que a gente pode seguir essa discussão eternamente.

A saúde no Brasil está decadente por culpa da política de impostos do país e os desvios de dinheiro. Em vários países aqui na Europa a saúde é pública e funciona.

Dizer que o Brasil tem tecnologia e apontar uma ou duas empresas é um argumento que eu não compro. Aqui pequenas empresas também tem acesso a tecnologia de ponta, e isso é importante para ser competitivo no mercado mundial. No Brasil não existe como criar uma pequena empresa competitiva (no cenário mundial) em setores tecnológicos.

O Brasil é uma democracia consolidada no papel. Na realidade, o governo é composto pela mesma cúpula de corruptos que se alternam no poder pela falta de opção melhor. Não existem bons políticos não porque não existe gente honesta no Brasil, mas porque os honestos não conseguem nem chegar às eleições, muito menos passar delas. No Brasil se compra votos e as redes de televisão tomam partido sim. Quem não lembra da campanha pró-Collor que a Globo fez quando ele foi eleito?

Dizer que a cultura brasileira é melhor não é muito objetivo ao meu ver. É como eu dizer que a minha mãe é melhor que a sua. Crescemos e fomos educados na cultura brasileira. É óbvio que sempre iremos preferi-la. Não têm como racionalizar gosto musical, então não dá para dizer que um tipo de música é melhor ou pior que o outro baseado puramente em argumentos racionais. O mesmo vale para as questões pessoais, e eu concordo com elas. Porém, tirando questões naturais, culturais e familiares, acho que o Brasil ainda tem muito o que evoluir.

Unknown disse...

Os fatores que citastes para justificar o problema da saúde são parte do problema. Mas uma coisa é prover um sistema para 82 milhões de alemães economicamente ativos e que pagam impostos em Euros religiosamente. Outra é prover um sistema para quase 200 milhões de brasileiros sendo que a grande maioria não recebe o suficiente para pagar imposto significativo. Portanto, acho sim que o problema maior é economico.

Não estou tão certo que não seja possível ter uma pequena empresa competitiva na área de tecnologia no Brasil. Eu creio que em São Paulo existam várias. A cidade de São Paulo não deve nada para as grandes cidades daqui (exceto a questão segurança).

Eu também achava grave a TV brasileira ter uma posição política, mas quando eu vi que aqui todo mundo acha normal o presidente ser dono das TV's e fazer propaganda política em todos os telejornais, achei bem pior. Querendo ou não a eleição e manutenção do Lula no poder mostra que o Brasil é uma democracia. Vamos ver quanto o Prodi vai durar.

A música brasileira é sim mais rica, tem uma diversidade muito maior que a daqui. Isso pra mim chega a ser obvio. Existe música suiça?

Rodrigo Schmidt disse...

O sistema de impostos no Brasil é injusto---beneficia os ricos, e maltrata ainda mais os pobres. Os problemas formam um ciclo onde praticamente tudo está errado e ninguém resolve nada, atribuindo o problema ao próximo elo da corrente.

Ainda que eu concordasse contigo e aceitasse que o problema do Brasil está apenas na Segurança e na Situação Econômica, me parece que o teu conceito de Situação Econômica não deixa espaço para mais nada, pois engloba até saúde e educação. O que sobra a ser discutido objetivamente além da Situação Econômica?

Engraçado é que alguns países parecem garantir melhores condições de educação e saúde mesmo sendo bem mais pobres que o Brasil. Nunca fui a Cuba para confirmar, mas já ouvi dizer que o sistema de saúde deles é muito bom, mesmo com todos os problemas econômicos.

Agora, tirando-se as questões objetivas sobre qualidade de vida, a cultura brasileira é obviamente rica pela dimensão continental do país. A Suíça possui 1/3 do tamanho do Rio Grande do Sul, e apenas 7.5 milhões de habitantes (menos que a Grande São Paulo). Ainda assim, eles tem uma cultura vasta, 4 línguas oficiais, e até uma cultura musical:

http://en.wikipedia.org/wiki/Music_of_Switzerland

Se é para se fazer comparações justas, temos que tomar dimensões equivalentes como base. Será que a cultura paulistana (da cidade de São Paulo apenas) é tão vasta?

Para se comparar o Brasil como um todo com alguma coisa, temos que compará-lo com a Europa inteira e eu acho difícil fazer uma comparação objetiva neste caso. Por essa razão eu me nego a discutir quem tem a melhor ou a pior cultura.

Um último comentário sobre "São Paulo não dever nada pra nenhuma grande cidade daqui..." O Brasil possui apenas UMA São Paulo em todo o seu território. Muita gente vive uma vida inteira no Brasil sem ter nem a chance de visitar São Paulo, quanto mais de conseguir uma vaga para trabalhar lá. É esse tipo de comentário pontual que eu não consigo entender bem. Escuto muita gente me dizer que o Brasil não é ruim por conta de exemplos pontuais. Sim, porque São Paulo tem tecnologia, Catimbó dos Judas tem Segurança, o nordeste tem as praias maravilhosas, etc... Mas o Zé do Povo vive uma vida inteira ganhando um salário mínimo, sem saúde, sem segurança, sem estabilidade, e sem acesso a nenhuma dessas maravilhas que fazem do Brasil o melhor país do mundo aos olhos de alguns.

Unknown disse...

Hm, interessante que as dimensões continentais do Brasil são relevantes quando falamos sobre cultura em comparação com a Suiça, mas não são relevantes quando falamos sobre saúde em comparação com Cuba. E se tamanho fosse documento em termos culturais, a China deveria ser um grande expoente da música mundial. Não creio que seja o caso.

Eu digo que saúde e educação estão associados ao problema económico porque sem dinheiro não tem como ter saúde e educação de qualidade. Quais modificações no sistema de impostos tu achas que poderiam melhorar o Brasil? Vale a pena postar no blog sobre isso, ou de repente mandar por email ao teu deputado ou senador favorito. Acho sugestões desse tipo muito válidas. Eu acho melhor tentar ajudar do que simplesmente dizer "tô fora". Só espero que não queiras propor um comunismo cubano ;-).

Sim, o Brasil só possui uma São Paulo, assim como a França só possui uma Paris. Mas cidades como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, e até Campinas, entre outras, são grandes cidades também. E sim, as praias do Nordeste são excelentes e poderiam trazer mais retorno ao país se fossem devidamente divulgadas mundo afora.

E eu não acho o Brasil o melhor país do mundo, se é que isso existe. Só acho que está mais perto dos melhores do que dos piores, e acredito que no futuro será melhor ainda, pois o potencial é imenso. Mas eu sou sempre muito otimista. Tem gente que se irrita com meu otimismo. Dizem que pra mim "tudo tá bom". Pode ser, mas eu acho que os otimistas são mais felizes que os pessimistas, mesmo com menos.

Rodrigo Schmidt disse...

Minha menção a Cuba foi só um exemplo besta de como economia e saúde não precisam andar sempre juntas. Tenho noção de que o modelo de Cuba jamais se aplicaria ao Brasil, mas imagino que seja possível melhorar a saúde sim, sem ter que necessariamente se tornar uma potência econômica.

Agora, por favor, não vá me dizer que a China não tem cultura :-). Por sinal, o que é cultura? E como medir se um país tem mais ou menos cultura que outro? Música não é a única forma de cultura existente. Se colocarmos a educação junto com a cultura (como no ministério) o Brasil já não parece assim tão rico. Quantos ganhadores de Prêmio Nobel, Prêmio Turing, ou Medalha Fields saíram do Brasil? Dizer que o Brasil é rico em cultura e apontar apenas música como um exemplo é só mais um argumento pontual pra mim. Seria esporte também uma forma de cultura? Nesse aspecto, como se posiciona um país cujo único esporte que recebe atenção é o futebol? Não quero começar mais discussões, só quero dar exemplos de porque é difícil comparar países em termos culturais. Essa não é a minha intenção, nem nunca foi. Como eu disse antes, discutir cultura pra mim é como discutir se a minha mãe é melhor que a sua. Prefiro me deter aos aspectos mais básicos e mais facilmente comparáveis da qualidade de vida (saúde, escolaridade, salários, empregos, segurança).

Para mim, a única forma de melhorar o Brasil é conscientizando a população de que a situação atingiu níveis inconcebíveis. O povo não se mobiliza porque vive na ilusão de que a situação não é tão ruim e se deixa levar pelos políticos que lucram em cima da ilusão geral. Me diga que político apoiaria um programa de conscientização nacional desse tipo :-).

Otimismo nada mais é do que uma forma de ilusão. Você se ilude a pensar que as coisas vão dar certo ou funcionam de alguma forma sem considerar a realidade. É óbvio que ilusão traz felicidade pelo simples fato de que podemos criar o que quisermos em nossas mentes. Um exemplo simples: toda criança é mais feliz enquanto acredita no Papai Noel e no Coelhinho da Páscoa, mas nem por isso crescemos a vida inteira acreditando neles.

O Brasil é o país do futuro, e sempre será se a população não se conscientizar dos problemas que devem ser resolvidos de vez, e não apenas amenizados.

Unknown disse...

Por falar em amenizar os problemas, acabo de ler essa notícia:

http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&newsID=a1690567.xml

Sim, existem muitos problemas. Eu só acho que não é tão fácil "resolver de vez", como se dependesse de um decreto.

Esportes? O Brasil tem o melhor time de volei masculino do mundo já há vários anos e um dos melhores femininos. O Brasil teve vários campeões de Formula 1 (Acho que só a Argentina tem um campeão de F1 fora da Europa, e um único campeão há quase 100 anos atrás) e ainda hoje temos pilotos em grandes equipes. Tivemos um campeão de grand slam de tênis, grandes iatistas e judocas. Ficamos em 16o. no quadro de medalhas das últimas olimpíadas (na frente de toda a America Latina, com exceção de Cuba). Sem falar no futebol, que é sem dúvida o esporte mais popular do mundo, não só do Brasil. Mas tudo em que o Brasil é bom é "pontual", e portanto não vale. Não sei qual país é bom em tudo. Talvez os EUA...

O prêmio Nobel é um prêmio mais político que científico. O Brasil foi o 17o. país do mundo em publicação de artigos científicos (http://www.universia.com.br/html/noticia/noticia_clipping_dcbjg.html) em 2005.

Não acho que o otimismo seja a ilusão de acreditar em coisas que não existem, mas apenas reconhecer o que há de bom e acreditar que podemos melhorar o que está ruim.

(Tinhas razão sobre a possibilidade de a discussão seguir eternamente ;-) )

Rodrigo Schmidt disse...

Acho que fui um pouco infeliz no meu exemplo sobre esportes. Eu me referia ao acesso e ao incentivo à prática de esportes para a população em geral, que eu acho que é pouco.

Eu acho também que estamos discutindo coisas diferentes aqui. O meu ponto é relacionado à qualidade de vida do brasileiro médio. Como tu mesmo mostraste, o Brasil tem bons números em várias coisas, mas a qualidade de vida do brasileiro continua baixa comparada aos países de primeiro mundo. Por isso que eu acho os seus exemplos pontuais. Eles são válidos sim, mas não alteram a vida do cidadão brasileiro mediano, que continua passando fome e trabalho.

Temos pontos de vista diferentes e acho que um não mudará a opinião do outro. Você, com o seu otimismo, acha que o Brasil está melhorando aos poucos e vai chegar lá um dia. Eu, com o meu pessimismo, acredito que o Brasil pode melhorar rapidamente com uma maior conscientização do povo. São duas propostas válidas e favoráveis ao crescimento do país.

Eu só não entendo porque, com o seu otimismo todo, você acabou saindo do Brazil também. :-)

Unknown disse...

Concordo que a qualidade de vida do brasileiro médio deixa a desejar. O eterno problema da distribuição de renda. No sul e sudeste tem muita gente vivendo como europeu, assim como no norte e nordeste tem muita gente vivendo como africano. Eu acho que a solução passa pela educação. E mesmo que hoje se começasse a ter educação pública de qualidade (o que não é o caso), demoraria pelo menos uma geração pra vermos os resultados.

Eu saí do Brasil não porque ache ruim ficar lá, mas porque eu sempre quis conhecer culturas diferentes. Sempre gostei de aprender outros idiomas e de me comunicar em outros idiomas. Conhecer o mundo ;-)