terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Histórias

Um amigo escreveu esses tempos que eu estava começando a colher os frutos dos meus quase 30 anos. Pois então, nada é mais normal para alguém de idade do que relembrar histórias da sua juventude.

Quando eu ainda morava na cidade de Rio Grande, no extremo sul to Brasil, costumava passar as férias de verão no balneário do Cassino, no mesmo município. O Cassino era o palco de numerosos casos durante o verão, especialmente durante a noite. A história que eu vou contar hoje se passou no final do século passado, em algum verão entre os anos de 1995 e 1998. Nessa época, um dos personagens mais famosos do Cassino era o Faquir, que fazia pequenas apresentações em espaços públicos com números de engolimento de facas de cozinha, auto-flagelamento com pequenos pedaços de vidros, e repouso sobre pedaços de vidros e facas com pessoas em pé sobre si. Os truques não eram, digamos, dignos de uma apresentação no Cirque du Soleil, mas divertiam o povo.

Entretanto, nesse dia em questão, o Faquir não contava ter na sua platéia um personagem um pouco fora do comum, que eu aqui chamarei de Seu Zé (imagine aqui um Seu Zé com uns 50-60 anos). Durante o número de engolimento de facas, Seu Zé reclamou que o faquir deveria enfiar a faca um pouco mais na garganta, pois aquilo ali não era muito convincente. O faquir apenas ignorou o pedido. Enquanto o faquir preparava o seu colchão de cacos de vidro e facas de cozinha, Seu Zé insistia que as facas deveriam ser colocadas não apenas com o fio para cima, como de costume, mas com as pontas para cima. Seu Zé chegou ao ponto de ir ele mesmo arrumar as facas com a ponta para cima no meio dos pedaços de vidro, apenas para ver o faquir rearranjá-las, colocando-as deitadas e apenas com o fio para cima. Na hora de escolher as pessoas que iriam subir sobre o seu corpo enquanto estivesse deitado sobre os vidros e facas, Seu Zé foi o primeiro a levantar a mão. Nesse momento todos perceberam as más intenções do indivíduo e o faquir não conseguiu mais se controlar e falou com uma expressão brava ao mesmo tempo que assustada:

- PERAÍ, TU NÃO, QUI TU TÁ É AFIM DI MI MATÁ!!!!

Eu nunca mais consegui esquecer a expressão do faquir nesse dia.

2 comentários:

Unknown disse...

Acho que o tal de Seu Zé tinha acabado de ler Carl Sagan, e estava tentando exercitar seu ceticismo hehehe.

Abraço.

Leandro Fonseca disse...

HUAHAUAHAUHAUAHUAHAUAHA!!

Cara, peço permissão pra usar essa aí no livro! :))